Inovação x Distração Digital

Menos foco = Menos performance = Menos inovação.

Em um artigo publicado na Harvard Business Review em dezembro de 2018, Alex Shootman, CEO da Workfront, discute como a distração no ambiente organizacional pode comprometer o desempenho e, consequentemente, inibir a inovação.

O famoso comercial da Apple de 1997, com o slogan “Pense Diferente”, ilustra esse conceito de forma poderosa. Nele, ícones do século XX aparecem para reforçar a ideia de que o inovador não se conforma com o mundo como ele é. No encerramento, a imagem de uma menina abrindo os olhos simboliza a descoberta de novas possibilidades. Até hoje, esse comercial ressoa com quem o vê pela primeira vez – e quem já viu, dificilmente esquece.

Por que não conseguimos pensar diferente?

Os inovadores, quase por definição, não se satisfazem com o status quo. Essa inquietação os leva a explorar novos caminhos, sempre atentos ao presente, mas com os olhos voltados para o futuro.

No entanto, esse impulso inovador não alcança a maioria das pessoas – ou, pelo menos, não de uma forma que as mova para a ação. Segundo o relatório State of Work da Workfront, 58% dos trabalhadores se sentem sobrecarregados com tarefas diárias e dizem não ter tempo para pensar além da sua lista de afazeres. Além disso, apenas 40% do tempo de trabalho é realmente dedicado à função para a qual foram contratados.

E os outros 60%?

Ano após ano, a resposta permanece a mesma: distrações. Os colaboradores estão tão ocupados lidando com interrupções que não encontram espaço para se concentrar no essencial – e muito menos para criar o futuro.

Se um CEO fosse questionado pelo conselho sobre o uso da capacidade da empresa e respondesse que apenas 40% dela é realmente aproveitada, certamente seria “convidado” a buscar novas oportunidades!

Isso é insano!

O paradoxo da tecnologia: mais digital, menos inovação

O mundo pós-pandemia, altamente digitalizado, deveria liberar tempo para maior produtividade e inovação. A lógica seria substituir o tempo de deslocamento por um tempo de reflexão e criação. Mas a realidade mostrou o contrário: excesso de comunicação, distrações constantes e a tirania do urgente tomaram conta da rotina.

O resultado? Uma crise do trabalho digital.

  • Estamos superconectados, mas desfocados.

  • Vivemos no tempo real, mas não temos tempo real.

  • O impacto da distração no cérebro e na inovação

A neurociência pode explicar como as distrações prejudicam nossa capacidade de pensar diferente.

Segundo John Ratey (A User’s Guide to the Brain, 2001), a atenção não é apenas percepção. Ela envolve processos como filtrar informações, equilibrar múltiplos estímulos e atribuir significado emocional às experiências.

Existem dois tipos principais de atenção:

Passiva: involuntária, ativada por estímulos externos (sons altos, luzes fortes, odores intensos).

Ativa: voluntária, exige esforço e depende de fatores como concentração, interesse e curiosidade.

As interrupções desgastam a atenção ativa e prejudicam a performance e a inovação.

Pesquisas da Universidade da Califórnia mostram que, após uma distração, o cérebro leva de 23 a 30 minutos para retomar o foco original. Esse tempo perdido gera mais erros, mais estresse e maior esforço cognitivo.

Mesmo que ocorram apenas três distrações por dia, isso equivale a pelo menos uma hora de trabalho produtivo perdida.

A equação é simples:

Menos foco = Menos performance = Menos inovação

Como recuperar a atenção e inovar?

Se você quer pensar diferente, pratique estas três estratégias:

1. Crie momentos de foco absoluto: Identifique o melhor período do seu dia para trabalhar sem interrupções e reserve de 30 a 60 minutos para refletir e inovar.

2. Desconecte-se do digital para resolver problemas complexos: Sempre que precisar encontrar uma nova solução, afaste-se das telas e permita-se pensar sem interferências.

3. Trabalhe com equipes diversas: A diversidade minimiza o impacto da homogeneidade e amplia a capacidade de fazer novas conexões e associações.

A inovação exige atenção. E a atenção, hoje, é um bem escasso. Quem conseguir preservá-la terá uma vantagem inestimável.

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